No último dia 13 de agosto fui convidada para falar com os jovens do projeto Associação Estudo e Trabalho sobre o tema Eu não quero viver inutilmente: é a minha obsessão, especificamente sobre o filme História sem fim, fazendo algumas reflexões sobre ele.
Aí se colocou o primeiro desafio. Revisitar o livro e o filme para me colocar diante dele. Não era uma palestra impessoal, na qual eu faria uma exposição teórica sobre o assunto, mas sim um lugar de contemplar, me olhar e a partir disso e da minha própria experiência falar das aventuras e obsessões das nossas vidas.
Ir até lá foi uma aventura. Não tinha carro, venho de um tempo de muito cansaço e parecia que tudo era complicado. Mas já comecei a ser acolhida aí. E quando lá cheguei me deparei com alguns jovens contando suas experiências, belas experiências, e de como sua relação com os estudos mudou ali, de como aquela companhia transformara suas vidas, como estava transformando a minha naquele exato momento.
E depois do almoço, comecei a minha conversa com os meninos. Queria muito provocá-los, queria muito que bebessem da mensagem daquele filme. E que bonito ver os olhinhos de todos buscando seguir o caminho que propúnhamos aí. Não é simples pedir a um grupo de adolescentes que prestem atenção à uma colocação logo depois do almoço. Mas me chamou a atenção a disponibilidade, a certeza que tinham de que ali se pedia algo que era bom, que era algo positivo para a vida deles. Não era apenas uma transmissão de conhecimento.
Portanto falamos desse filme – História sem fim, baseado no livro de Michael Ende do mesmo nome. A primeira coisa que se coloca nessa história é um menino que entra dentro de uma outra história para poder ajudar a resolver o conflito que existe ali, o NADA que está tomando conta de Fantasia e matando sua princesa. Ali, em Fantasia todos estão assustados com o NADA, porque ele não é sequer um buraco, um buraco seria alguma coisa e não um nada. Como ficar indiferente diante dessa situação? E nós, também enfrentamos o NADA. Todos são convidados a embarcar nessa busca de resposta. “Os seres humanos não podem viver sem esperança. Pois quem exerce controle, irá controlá-lo com muita facilidade, será o poderoso. Esse é o objetivo do nada, acabar com a esperança.” (História sem fim)
Para enfrentar o NADA, um herói menino é escolhido, além do menino leitor da história e, por que não, nós mesmos? Nessa jornada, Atreyu e Bastian têm que buscar salvar a princesa e Fantasia. Para isso terão que passar por algumas provas. Terão que enfrentar o Pântano da Tristeza e recuperar suas razões para caminhar, seguir seus verdadeiros desejos, embora “esse seja o mais perigoso dos caminhos” (História sem fim), se olhar no espelho e se perceber inteiro, ao mesmo tempo descobrindo o outro, e finalmente descobrir a importância de ter um nome, de ter uma identidade.
Nada mais impressionante do que perceber que os nossos meninos ali presentes, se identificaram, perceberam que tudo o que falávamos tem a ver com a vida deles, que todos somos chamados a viver nossas tristezas, buscar a esperança e nosso nome. Isso é nossa possibilidade de enfrentar o NADA, aquilo que nem mesmo um buraco é.
Saí dali menos cansada, menos triste, menos descrente, ao ter, junto com um bando de garotos, feito a experiência de que “Fantasia poderá nascer novamente de seus sonhos e desejos”. (História sem fim)
Regina Tarifa